Uma infinidade de sondagens divulgadas nos últimos meses atestam um fato: a maioria dos brasileiros está ávida para presenciar uma renovação dos nomes e perfis nos cargos políticos nas eleiçõesdo próximo ano.
No entanto, segundo Marcus André Melo, professor associado da Universidade Federal de Pernambuco e fellow da John Simon Guggenheim Foundation, uma parte considerável desse potencial de mudança nos cargos políticos pode acabar frustrada no próximo ano. Motivo? O sistema ainda garante certas vantagens para quem está no poder.
Essa combinação de fatores, segundo o especialista, deve gerar Legislativos para lá de esquizofrênicos com nomes da velha e da nova política lado a lado. Mas isso vai depender de uma maior coesão dos movimentos da sociedade civil que apoiam essas campanhas emergentes.
Melo, que já foi professor na Universidade de Yale e no Massachusetts Institute of Technology (MIT), explica, nesta entrevista a EXAME.com, o que está por trás dos resultados das mais recentes pesquisas de intenção de voto e detalha os fatores que devem impactar as eleições de 2018.
EXAME.com: Uma pesquisa recente da DAPP/FGV mostra que há uma grande expectativa da população por uma renovação política no próximo ano. Qual a chance dessa expectativa acabar frustrada?
Marcos André Melo: O curioso é que há uma demanda enorme por renovação, mas ao mesmo tempo há uma contra tendência que faz com que essas pressões se arrefeçam. Quem está no poder ainda tem uma vantagem competitiva muito forte.
Apesar dos custos reputacionais para quem é político hoje, a reforma política recentemente aprovada aumentou os recursos para os partidos com maior representação. Essa quantidade considerável de recursos faz com que quem está no poder seja simultaneamente muito frágil e forte.
Essa é a principal razão pelo qual quem é governo, quem faz parte da coalizão no nível federal e no nível estadual em alguns estados tenha uma boa vantagem. Qual é o tamanho dessa vantagem? Muito maior do que no passado. Antes, as doações empresariais poderiam desestabilizar uma candidatura a governador. Mas agora esse apoio empresarial perdeu o valor relativo.
É muito difícil dizer qual será o saldo líquido. Essa pressão vai ser devastadora nas grandes metrópoles e isso facilita para os novatos na política, mas que terão que se preparar para essa situação de falta de recursos.
A eleição municipal já teve um impacto devastador para alguns partidos. Agora, a gente vai ver num nível federal o que vai acontecer. Eu acho que vem uma renovação considerável. Vai gerar uma coisa esquizofrênica: alguns políticos de grande expressão vão conseguir sobreviver e, ao mesmo tempo, muitos vão sucumbir.
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