Erra feio a propaganda na TV da presidenta Dilma Rousseff ao associar Marina Silva a Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello, presidentes eleitos sob a bandeira de salvadores da pátria que deixaram os postos de maneira trágica a renúncia, em um caso, e o impeachment, no outro.
Se a ideia era mostrar que a candidata do PSB era uma “aventureira”, incapaz de formar uma maioria parlamentar, como os ex-presidentes citados, o tiro acertou o próprio pé.
Primeiro porque um dos “salvadores da pátria”, citado indiretamente na peça, é hoje aliado de primeira ordem do Planalto. Já anunciou, inclusive, o voto na presidenta. Em segundo lugar porque, ao especular sobre uma suposta incapacidade de Marina em obter uma maioria sólida no Congresso, fato que contribuiu para a queda de Jânio e Collor, o PT brinca com a própria história: o partido só acenou à governabilidade quando uma sombra semelhante pairou sobre o governo durante a crise do “mensalão”, em 2004.
Ali, e só ali, a legenda percebeu que não conseguiria governar sozinha, ou com os aliados escolhidos a dedo na campanha e alargou o terreno do peemedebismo, expressão cunhada pelo cientista político Marcos Nobre para designar o sacrifício da coerência em troca da aliança com os partidos fisiológicos do Congresso, não apenas o PMDB.
Por esse viés é possível dizer que foi a prudência, e não a generosidade, a balsa que ajudou o governo petista a chegar do outro lado da margem em “segurança” (com todas as aspas que a palavra “segurança” permite) em 2006. Caso contrário, a travessia hoje poderia ser chamada na propaganda alheia de “aventura” o que seria lamentável, diga-se, além de desonesto.
Em terceiro lugar porque, ao incluir a rival entre os “chefes do partido do eu sozinho”, a propaganda desrespeita duas histórias. A do PSB, que hoje abriga Marina e que até ontem compunha a base de apoio do PT, e da própria ex-seringueira, ex-senadora do PT e ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula. É como admitir que o partido aceita amadores em sua administração, mas não em uma disputa eleitoral.
Por fim, erra o partido como erram todos os candidatos que apelam ao medo para construir, ou desconstruir, um discurso. Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo da mesma estratégia em todas as eleições que disputou. Em 2002, a atriz Regina Duarte, eleitora do então candidato tucano José Serra, foi à TV dizer que tinha medo de um futuro governo petista. Virou símbolo do derrotismo que Lula prometeu enterrar ao anunciar a vitória da esperança sobre o medo.
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