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14 de outubro de 2017

AOS POUCOS, BRASILEIRO VAI LARGANDO AS RUAS E DEIXANDO TUDO COMO ESTÁ

Há poucos anos, era possível dizer que a última grande manifestação da população brasileira havia sido em 1992, quando das denúncias de corrupção envolvendo o então presidente Fernando Collor.

O movimento, conhecido como caras-pintadas, foi liderado por estudantes e entre agosto e setembro daquele ano reuniu milhares de cidadãos nas ruas. São Paulo, por exemplo, viu uma passeata que se estima ter reunido cerca de 350 mil pessoas. Após esse episódio, entretanto, foram quase duas décadas até que novas manifestações de massa ocorressem no Brasil.

Em 2013, o Movimento Passe Livre (MPL) iniciou uma cruzada contra o aumento de R$ 0,20 nas tarifas de transporte público, sobretudo em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador. A movimentação ganhou corpo após forte repressão policial, gerando uma comoção nacional em favor da causa do MPL e a estendendo para demandas de caráter de direitos básicos, como Saúde, Educação e Segurança Pública. Um levantamento da Confederação Nacional de Municípios apontou a participação de aproximadamente 2 milhões de brasileiros, em 438 municípios, nestas jornadas de junho de 2013.

Sem a mesma adesão nos anos posteriores, o MPL viu suas manifestações minguarem. Enquanto isso, o Brasil viveu momento histórico em 13 de março de 2016, na maior das manifestações em favor do impedimento de Dilma Rousseff. Segundo a Polícia Militar, mais de 3.5 milhões de pessoas se reuniram nos protestos ocorridos em 326 cidades. Números suficientes para colocarem o episódio como a maior concentração de pessoas em um ato político no Brasil.

Após o impeachment, entretanto, muitos escândalos políticos decorreram sem que houvesse manifestações populares significativas nas ruas. Movimentos sociais e sociedade civil continuam tentando ocupar esses espaços, mas sem que haja adesão maciça. Enquanto isso, parlamentares, juízes e empresários se emaranham em episódios de favorecimento ilegal, corrupção e desvios fiscais com a sensação de certa calmaria.

“Muita gente foi pedir a saída do Partido dos Trabalhadores, não por serem contrários à corrupção, mas contra o PT em si, que caiu. Esse pessoal não é contra a corrupção de Temer e de outros partidos, mas contra a do PT, por razões ideológicas. Ou seja, há corrupções de um lado e há as de outro.”

Desalento

“Muita gente foi de boa-fé para a rua achando que iria acabar com a corrupção do governo. Na sequência, entretanto, houve uma piora da corrupção. As pessoas se cansam, não enxergam na mobilização algo que irá propor alternativas. Em 2013, havia objetivos na esteira da manifestação como a melhoria de serviços públicos, o que não ocorreu. Até piorou. Isso gera um desalento. Muita gente se desanima.”

Eleições

“É sempre uma oportunidade de novas mobilizações, gerando fatos novos e colocando em evidência o debate político na rua. Pode sim fazer com que gente que estava parada volte a se mobilizar, contra ou a favor de candidatos. Acredito que se houver chances para Jair Bolsonaro, por exemplo, muita gente que está na calmaria irá se mobilizar. O mesmo para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse cenário de polarização ideológica pode voltar a gerar uma mobilização bastante razoável,” disse Sergio Luis Braghini, mestre em Psicologia pela PUC/Campinas e doutor em Ciências Sociais pela PUC/SP.

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