O ano começou morno politicamente, em grande parte devido ao recesso parlamentar e às normas para o processo de impeachment definidas pelo STF no final do ano passado, mas a prisão do marqueteiro João Santana na semana passada e a troca do ministro da Justiça foram preâmbulos importantes das altas temperaturas que março promete em Brasília e outras paragens.
Mesmo sem considerar o que é desconhecido, ou seja, quais serão os próximos passos da operação Lava Jato e seus desdobramentos, o mês promete fortes emoções.
Já na quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal pode julgar uma das denúncias da Procuradoria-Geral da República contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para decidir se o parlamentar se tornará réu em processo no qual é acusado de corrupção no âmbito da Lava Jato.
Se Cunha for colocado na condição de réu poderá ver sua força política um pouco mais corroída depois de ter sofrido arranhões com a derrota na escolha do líder da bancada do PMDB na Câmara no mês passado.
Mas se é possível dizer que o presidente da Câmara já teve mais força, é preciso lembrar que ele ainda detém poder e uma enorme influência sobre muitos deputados de vários partidos, além de importante parcela do seu PMDB, maior bancada na Casa.
E o problema é que Cunha normalmente se torna mais agressivo quando se sente atacado, trabalhando abertamente para a aprovação de medidas contrárias ao governo ou para rejeição ou demora na votação de projetos de interesse do Palácio do Planalto.
A dor de cabeça do governo pode se transformar numa enorme enxaqueca no segundo fim de semana do mês. No sábado 12 o PMDB realiza convenção nacional para eleição da direção partidária e pode debater sobre o desembarque do governo comandado pela presidente Dilma Rousseff.
Alguém poderia se perguntar, depois de ver o programa de TV do PMDB na semana passada, se é preciso mesmo que o partido anuncie sua saída formal do governo. O tom do programa, capitaneado pelos seus principais caciques, foi, no mínimo, de alguém que não é o maior partido da coalizão governista; no máximo, de alguém que está claramente na oposição.
Nada que lembrasse um partido que tem seu presidente, Michel Temer, como vice-presidente da República e mais seis ministros, para ficarmos só no primeiro escalão do governo.
Somados aos eventos já previstos, novos passos da Lava Jato, aguardados com expectativa por alguns e com tensão por outros, e eventuais novidades das ações que pedem a cassação da chapa de Dilma no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devem levar a temperatura política de março a patamares muitos graus acima da média histórica.
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