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13 de outubro de 2015

"NO PAÍS DA DELAÇÃO, CUNHA PODE DAR O GOLPE PREMIADO"

Nós sabemos de onde vem a força que protege Eduardo Cunha. Pela mais infeliz das coincidências, embora não tão casual assim, caberá a ele, a partir de hoje, tentar deliberar pelo destino dos pedidos de impeachment contra Dilma Rousseff, presidente que pode ser alvo de todas as críticas mas contra quem não pesa uma única prova real, um fiapo, uma mancha suspeita, muito menos documentos sobre quatro contas na Suíça.

Mais do que qualquer coisa, essa situação torna a simples possibilidade de que Eduardo Cunha possa deliberar sobre uma investigação sobre a presidente uma hipótese especialmente absurda não fosse particularmente reveladora sobre os compromissos de quem trabalha pelo afastamento da presidente sem preocupar-se com o necessário fundamento jurídico.

Como diz a Folha em editorial de hoje, o presidente da Câmara não "tem credibilidade para julgar o impeachment de quem quer que seja." Este é justamente o jogo, e por isso é perigosíssimo. Cunha não tem o que perder.

Alguém duvida das ofertas possíveis, caso ele aceite promessas de impunidade futura em troca de um serviço que só ele está em condições de prestar? Cabe alguma dúvida de que, ferido de morte, nada mais procure do que um abrigo, quem sabe uma vingança? Estamos falando em isenção, desprendimento?

Eu diria que, passamos da delação premiada para o golpe premiado. Não é Dilma nem seu governo que enfrentam uma situação de risco a partir de hoje. É o país, são as conquistas democráticas consolidadas pela Constituição de 1988.

Não custa lembrar, contudo, que a derrota da democracia, hoje, não é um destino inevitável. A cobertura vergonhosa dos jornais e especialmente das revistas sobre a descoberta de provas contra Cunha não deixa dúvidas sobre a opção de preservar o homem de 5 milhões de dólares como instrumento contra Dilma.

Não cabe ter dúvidas, porém, do apoio da maioria dos brasileiros ao afastamento do presidente da Câmara. Só resta saber como os representantes do povo, aqueles que encarnam a soberania popular, irão agir para barrar tão insensata aventura.

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